31/12/2008

A noite dos narcolépticos.

Mais uma volta, mais uma viagem, 364 dias à espera de uma única noite, de uns míseros 12 segundos, que na melhor das hipóteses, só teremos uma ligeira recordação, porque o álcool manhoso tem como efeito secundário as figuras tristes, os impropérios e o chorrilho de verdades que teimam em debitar e nunca o fariam num estado sóbrio... O primário é apenas esquecer, mas a verdade das más memórias é tão bera que se gruda aos neurónios da lembrança, e nem com diluente ela se desvanece.
A histeria instala-se e convida a mesquinhez, co-habitando as duas numa alegre festa. Dá-se o ano que passou por perdido, pois mais uma vez encheram-se de dívidas, não jogaram no Euromilhões as vezes suficientes, trabalharam metade do ano porque o filho da puta do médico de família não assina de cruz as baixas médicas, engordaram 30 kilos, só foderam com gente bera e feia, piores ainda que os respectivos cônjuges, enfim faltaram ao prometido em tudo o que tinham jurado exactamente um ano antes, naquele momento de êxtase em que o mundo, e eles próprios, parecem belos. No fundo é como meter LSD mas sem a carga negativa de os confundirem com um anarca sabujo do trance, mantendo-se assim fiéis ao estilo suburbano chunga e deprimente.
Os clichés são do domínio público, mas executá-los a todos é o caralho, a não ser que sejamos uma contorcionista chinesa, um polvo, um super-homem com ou sem cadeira de rodas (homem é apenas para uma visualização da personagem), com o dom da manipulação do próprio tempo, porque vestir roupa interior azul, enquanto estamos em cima de um banco equilibrados apenas no pédireito com uma nota na mão, aproveitando a altura e remexendo no armário das panelas para deitar fora uma peça de loiça velha, formulam-se desejos a comer 12 passas sicronizado com as derradeiras 12 badaladas... Foda-se, pensar nisto até dói, não sei se pela dificuldade ou se pelo mau-gosto destes lugares-comuns da quase-gente!!!

Eu, embora com o meu característico estilo blasé, também tenho as minhas rotinazinhas. Estarei a comer à canzana,o pandeiro a um vacão qualquer enquanto faço doze linhas nos costatos da mula, sicronizando as badaladas com as bombadas dadas nos fundilhos, acompanhando o respectivo som do sino com o som dos cornos da gaja a bater na cabeceira da cama. Os desejos formulados, esses são diferentes. Não são doze, mas apenas um: “Espero sobreviver a mais este...”

Apenas desejo um Bom-Ano para mim, porque me é indiferente a vossa felicidade ou infelicidade. Basicamente quero que vocês todos se fodam!!!

17/12/2008

É uma pena...

Há merdas que me desalentam, que me fazem desacreditar na Humanidade e também nas mulheres em geral.
São poucas ou mesmo raras as ocasiões em que não olho para uma fêmea e não imagino sexo à bruta e javardo. Coisas de gajos à séria... Mas como é lógico, há umas mais que outras, o que prova que sou um gajo sensível e nada fútil. Também varia conforme a minha disposição, pois quando me sinto deprimido e com falta de amor próprio imagino cenas cheias de romantismo acompanhadas de olhares cúmplices e musicas a condizer, relegando o pinanço em si para segundo lugar. Claro que estas ocasiões são raras, felizmente, pois tenho uma mezinha que se tem tornado infalível, que consiste básicamente em lembrar-me das seguintes coisas, e por esta ordem: casamento, T2, Cacém, cornos, filhos, dívidas,excesso de gordura, falta de sexo, suicídio... Há também uma segunda opção infalível que dá pelo nome de cocaína, mas a crise chega a todos e o meu dealer não foi excepção. O filho da puta deu-lhe para cortar a cena com Zoloft coisa contraprocedente para quando se quer pensar em barrasquice.

Tenho feito que nem abutre de volta de carne “al dente”, das tais que nos fazem semi-cerrar os olhos, ranger a dentuça e soltar um sorriso traiçoeiro, advinhado-se o pensamento. Resolvi dar a estocada final, investindo de corpo e... pouco mais porque se considerar que tenho alma também tenho de considerar a sincera boa-vontade das pessoas na quadra natalícia:

-Olá, eu sou o Dias, Jafu Dias, muito prazer, assim espero!

-Olá, eu sou a Sara, gaja apatecível e boa de caralho, mas só gosto de lamber carpetes!!!

10/12/2008

A intrínseca relação entre o verbo querer e fazer

Afinal não sou assim tão diferente dos outros.
Dado o meu estado avançado de decomposição no que toca ao comportamento social, legal e moralmente aceite, tive que recorrer ao maior logro da história da medicina: o SNS e o médico de família, a que carinhosamente chamamos de "Médico de Família". A minha ideia desta mística e poderosa figura que representa a salvação (terrena, está claro), era um tipo de forte personalidade, altruísta, cheio de boa vontade e quase tão terno como a Floribela (até mesmo no especial trato e carinho com as crianças), só que sem o sotaque matarroano, sem qualquer referência que nos remeta para o mais retorcido deboche e com maior capacidade de fingimento. Claro que não acreditava que fosse tudo igualzinho à série da SIC emitida à uns anos atrás, também não sou assim tão burro, porque só mesmo num mundo ficcionado é que um homem tem como filho um puto estúpido e mimado que acha que dar autógrafos é uma profissão. Um médico a sério "arranjava-lhe" logo uma qualquer doença rara e terminal à prova de Dr. House, convencia o fedelho a fazer um Inter-Rail para a Holanda, onde a eutanásia é bem tolerada. Era juntar o útil ao agradável, pois livrava-se de um filho da puta de um bastardo que num futuro próximo lhe iria foder a guita toda da reforma em droga, em honorários com advogados, fianças e lógicamente um curso superior de 10 anos numa Universidade privada, num curso com um nome supimpa mas que nunca irá ter quaquer utilidade prática e, por outro lado, praticava um acto de solidariedade às gerações seguintes que só assistiriam ao Disney Kids apresentado por aquela mula ingénua disfarçada de Lolita, mas que arrasa com uma equipa de Rugby.

Dei de caras com a triste realidade de estar enfermo e necessitado, e por isso tive de recorrer a um tipo que diz ter um diploma, que estudou muito e que supostamente é um grande conhecedor da fisiologia das pessoas. Se é assim tão inteligente porque caralho passou os últimos 30 anos a ver frúnculos e varizes de velhas podres e resmengas? Porque se tornou numa espécie de dealer de droga preferido dos lares da 3ª Idade, da Inatel e das excursões a Badajoz? Porque não foi para cirurgião plástico de vedetas que garantem bicos vitalícios em troca de um par de mamas? Estas e outras questões pertinentes fazem-me duvidar das capacidades profissionais e intelectuais destes tipos... Mas teve que ser, tive que encarar um deles de frente, mas para minha surpresa, não correu assim tão mal como esperava. Não me receitou drogas, antes até pelo contrário, disse para as evitar, coisa estranha vindo de quem vem. O cabrão do Pequito cortou as vazas a estas sanguessugas, pois desde que meteu as beiçolas na corneta acabaram-se as viagens à República Dominicana. A comissão deve ter passado a ser paga em canetas manhosas de plástico com desenhos de estômagos...
Apenas me receitou interacção social. Pura e dura! Ainda lhe perguntei se os bares de alterne e puteiros em geral serviam para o efeito. Mas não, tinha de ser algo sério, onde eu fosse desejado apenas pela pessoa que sou e não pelas quantidades de dinheiro e droga que estou disposto a largar por umas horas com uma mantelhona. Tinha de ser uma socialização sincera e desprovida de interesses materiais.
Questionei-o sobre o porquê de tal "medicamento" amargo, intragável e menos provável que a eleição do Garcia Pereira para uma merda qualquer, e ele disse-me que estava a começar a apresentar sintomas de Sulismo. E que raio é o Sulismo??? É uma doença que dá nos homens às portas dos "trinta" e tem como sintomas a indiferença perante um programa nocturno que dá prémios e é apresentado por uma qualquer cabra pró, semi-nua, aspirante a puta, e chupista profissional, vulgo RP/Actriz/Empresária. Na sua fase mais avançada faz-nos gostar de futebol ao Domingo e discuti-lo à Segunda e, na sua fase terminal e sem retorno, começamos a ponderar em formar uma família (com putos e tudo), e arrendar um T1 na Baixa da Banheira. No fundo é uma espécie de morte e inferno por antecipação mas sem o fedor, o velório, as flores e as carpideiras. O termo inglês para esta doença é ZOMBIE!

Saí da minha consulta com mais dúvidas do que certezas. Onde iria eu encontrar a tal "interacção social"? Comecei a ponderar em inscrever-me nos Jeovás, mas a questão de ter dia certo para ver o padeiro e acordar cedo ao Domingo para importunar suburbanos deixou-me pouco à vontade.
Ainda pedi informações para me associar à Opus Dei, mas afinal eles só aceitam gajos que sejam crentes convictos. Foda-se, estes gajos são mais papistas que o Papa. E pasme-se, também não aceitam padres, panascas e pedófilos em geral, só mesmo punheteiros adoradores de água fria e vergastada.

Por sorte, e talvez por piedade, recebi um convite para um jantar de Natal entre colegas de trabalho. E parece que foi um convite sentido, porque aquela malta sabia da minha condição enferma, e por breves instantes foram assaltados por um espírito de compaixão próprio desta quadra. Mas repito: foi apenas por breves instantes, porque no minuto a seguir voltou tudo ao normal, pois eles desataram a dizer mal uns dos outros, mas de uma forma precavida, ou seja, pelo modo dorsal. Fizeram-me prometer que me ia comportar segundo as regras deles, ao que acedi , mesmo desconhecendo-as. Mas sabia ao que ia, não estava assim tão a Leste, pois é do domínio público as regras deste tipo de confraternização.
E pasme-se, (novamente esta expressão ridícula, sinais cada vez mais evidentes do Sulismo) até estava com um nervoso miudinho, ia ser a minha primeira vez.
Outrora ainda tentei uma proeza estas, de comparecer um evento destes, mas acagacei-me e acabei por desaparecer logo ao início.

O tempo foi passando e o Dia D chegou. Já levava tudo ensaiado e interiorizado, mas também não haveria de ser difícil nem estranho, era só entrar no comboio.
Juntei-me ao grupo dos supostos machos Alfa, só naquela de perceber quem eram as colegas assim mais libertinas, ou então as mal-casadas que desafogam as mágoas ao fim do primeiro copo de tinto, e desta forma revelando os pontos fracos e posteriormente o Ponto G. Em qualquer um dos casos citados (e mesmo todos os não citados) o objectivo é o mesmo: a tão apetecível e perigosa queca laboral!

O meu espanto cresceu a um ritmo inversamente proporcional ao da tesão, pois a conversa daqueles labregos versava basicamente em insinuações panascas e sodomitas entre eles, e nos mais variados locais e situações, fazendo um qualquer pornógrafo profissional estrangeiro um verdadeiro anjo inocente. Os nacionais ficam de fora, porque pornografia e bestialidade são coisas distintas.
Que raio de panca estranha, ainda para mais um dos maiores picha-d'aço de Lisboa e Além-Tejo também lá estava. Mas o maior interesse geral parecia recair sobre a ridicularização da vida sexual de terceiros, ou então, por questões de conveniência perceptiva, chamemos-lhe "Dor de Corno".
Desatei a beber na tentativa de me integrar à força, mas o meu instinto de sobrevivência não mo permitiu. O final foi triste, pois estava ébrio como um motorista de um TIR e enjoado. O enjôo devia-se à merda da comida servida, à conversa sobre as mil e uma fanchonices ocorridas num balneário desportivo e à má língua do gajedo em relação aos não-presentes. Pareciam faquires... Lá pelo meio ainda ouvi um cromo a dizer "Amigo Secreto e tal..." FODA-SE!!! Um gajo tem limites, tanto no mau gosto como no fingimento. Só tenho a capacidade de fingir que gosto de alguém durante 1 minuto, é como suster a respiração. Pelos vistos para esta malta, é como respirar.

A ver se entendo: ando um ano inteiro às turras e em desacordo com esta maralha, passo a vida a dizer mal deles, quer à frente quer atrás, considero-os uns incompetentes e acho o gajedo a coisa mais desinteressante. Quer isto dizer o quê? Que tenho apenas um mês por ano para me redimir? E porque raio fico a odiá-los ainda mais? E estou eu doente? Ser normal é ser assim? Quero que tudo isto se foda!!!

Desenfiei-me daquele martírio e fui à minha vida, ou melhor, ao que resta dela. Com sorte ainda apanho SIDA, gonorreia e candidíase. Não deve haver melhor remédio contra esta maleita estranha que me assolou, com a vantagem de ser menos doloroso que a cura...
Pouco antes de virar o barco, já estava no meu mundo. Nem sei se o estafermo poderia ser considerado do género feminino ou mesmo humano, mas àquela hora, e ainda para mais na linha de Sintra foi o que se arranjou no primeiro puteiro que encontrei aberto. E a última coisa que recordo antes de revirar os olhos foi de dizer à vacarrôncia ucraniana, enquanto lhe agarrava a cabeça pela nuca e a forçava a meter o focinho entre as minhas pernas, a única frase com piada que reti naquele hipócrita e enfadonho convívio:

"Só fazes se quiseres!!!"