27/10/2009

E por fim, hoje escrevo eu!

Imagina: estás aborrecido, sem sono e sem nada para fazer. Só mesmo por acaso decides criar um nickname numa rede social manhosa, assim do nada, só porque sim... Árdua é a tarefa de o criar sem cair nos clichés bacocos que reafirmam o mau gosto, a azeitice e a mais pura das acefalias.
Caviaremayo nasce em 2007, mais um a juntar à catrefada de nicks que já criei, mas que foi crescendo, foi tendo amigos e comunicou intensamente. Dia após dia alimentei-o até sofrer uma metamorfose estranha e se tornar num verdadeiro alter ego. E assim nasce este blog...
Pela primeira vez na vida, eu, e pela voz do Caviar, comecei a escrever coisas, muitas coisas, que embora de gosto e qualidade literária duvidosa, me deu imenso prazer em escrever. Logo ao início o traço estava definido, um niilista, egocêntrico, histriónico, narcisista, lisboeta, boémio, machista, sem respeito pelo seu semelhante, sempre em busca de situações limite e apologista da extinção absoluta da Amadora, de Chelas, da margem-sul, e claro, os seus respectivos habitantes.
Eu tornei-me nos seus (dele) 5 sentidos, as situações que eu presenciava ou participava, Caviar narrava, mas na sua muito própria prespectiva. E aqui começa o grande problema.

Em Dezembro passado assustei-me quando ao fim de mais um dia de trabalho dei conta que eu, o próprio, tinha passado o dia inteiro a ser Caviar, de carne e osso, de alma e coração, a interagir com colegas de trabalho, e não tinha sido a primeira vez. De certa forma achei engraçado mas a preocupação começou a surgir, isto porque mantive sempre a mesma atitude, sarcástico, inoportuno e a roçar o ordinário. O limite foi quando comecei a interrogar-me como o Caviar reagiria nas situações banais e diárias em que eu me envolvia.

Para vocês, normais, isto é inconcebível, ridículo e estúpido. Para mim, o próprio, é perigoso, perigosos demais quando ando há 35 anos em busca de mim próprio, construindo e destruindo personagens todos os dias para que possa ocupar o meu lugar. É terrível perceber que tudo não passa de um estudo prévio de situações para que me consiga moldar, encaixar, e fazer parte de um mundo que sinto não ser meu. É um teatro constante em que não sabemos as deixas e acabamos por improvisar. Mas as falhas de argumento acabam por acontecer, a frustração invade-nos e a loucura faz o resto. Tenho saudades, saudades de um abraço, um beijo e aconchego dos cobertores. Tenho tantas saudades que nem me lembro ou nunca aconteceu...

O Caviar, como é lógico, acabou. A 6 de Setembro último tive uma situação limite, uma patologia latente deu sinais de si e lógicamente o Caviar não teve nada a haver com isso, mas de certa forma também não irá ajudar daqui para a frente. E eu, o próprio, não consigo escrever nem uma carta de amor!
Tive a maior satisfação em escrever estes posts, em que alguns, de certa forma são auto-biográficos mas distorcidos. Deixo um agradecimento e uma beijoca à gaja que estóicamente me aturou durante 12 anos e que sempre me incentivou a escrever ordinarices. E aproveitando os recados, deixo um esclarecimento ao cabrão que aqui vem há cerca de um ano sempre à procura do "significado de reboot": FODA-SE, REBOOT QUER DIZER REINICIAR O COMPUTADOR!!!


Com os meus melhores cumprimentos,
quero que vocês todos se fodam
Miguel, o próprio

3 comentários:

António Castro disse...

Acordas, crias um nick. Dás-lhe voz. Ele diz tudo o que tu não dizes, ele fala do que tu não consegues. Até chega a criticar-te a ti como ninguém consegue. Pronto, talvez chegue.
Dás-lhe a voz e ele faz o resto, assume o controlo. Começa a viver em ti, a estar em ti, no teu quotidiano. E então dás por ti a desejar chegar ao mundo dele, ao lugar onde tudo é dele e não há censura. Dás por ti a sorrir e a pensar como vais traduzir os momentos, as situações caóticas e/ou repletas de humor.
E um dia acordas e fazes tudo o que o outrora um nick faria.

Acho que se estiver errado, não estarei de todo. Espero.

"Dinanzi a me non fuor cose create se non etterne e io etterno duro" La Divina Comedia

Esta frase de Alighieri surge-me na mente como se o meu próprio Caviar me falasse em jeito de censura jocosa, numa sátira. Como se depois de mim, ele fosse eterno neste mundo em que reina. Nesta coisa de redes sociais e blogs.

Dou por mim a ser Carlos Barbosa no dia-a-dia. Partilhamos a paixão desenfreada pela obra de Palahniuk, Carlos e Eu.

Weirdo. Não acredito que haja palavra portuguesa que seja tão objectiva como essa. Esquisito. Estranho. Anormal. O que quer que seja. Weirdo é A palavra. Está, portanto, perdoado o anglicismo.

António Castro disse...

Ah! E quanto ao teu Caviar, foi um prazer.
É interessante. A escrita, claro. Não tenho nenhum interesse homo por uma personalidade incorpórea.

teaching disse...

oh não...