10/02/2009

Postponed

Tenho-me em muito boa conta, considero-me um tipo coerente, perspicaz, verdadeiro e de escolhas acertadas. Bem sei que são demasiadas qualidades para uma pessoa só, mas vão ter de acreditar tal como acreditam nos horóscopos ou no diário da “Maria”, aliás, acho até que é bastante mais plausível acreditarem em mim, pois há gente que até nasce assim. Só mesmo os (mal?) fodidos da vida e pobres de espírito para crer que todos nós vivemos num mundo negro e nublado, cheio de cabalas e armadilhas à espreita em cada esquina para nos obliterar a felicidade e o sorriso, mas nem todos nascem Toys, de esquerda, monárquicos ou na linha de Sintra... e na pior das hipóteses, para aqueles mas pessimistas e adoradores de novelas-empadão da Globo, tudo atrás referido mas no Fogueteiro. Alguns de nós são bafejados sobejamente por carradas de humanidade, embora os “outros” insistam em chamar-lhe “sorte”. E poderia continuar a fazer piadas, trocadilhos e escárnio desta gentalha previsível e enfadonha. Mas na verdade também eu tenho alguns telhados de vidro, mas nada de transcendente, apenas algo que faz com que me enquadre na categoria das pessoas...
...traídas pela sua própria humanidade!

Um dia, lá pelos gloriosos 90’as, quando fui a um puteiro, começou a minha tormenta, que desde aí perdura. Nesse momento tive consciência do meu sentido de oportunidade, um facto que me tem trazido algumas gargalhadas, inamizades, amores, desamores, infelicidade, e por fim, a resignação...
Para os mais velhos, com certeza lembrar-se-ão do famoso humanista misterioso, um filantropo que prestou um valioso serviço público à nação, uma espécie de ASAE do putedo, que chinou umas quantas lúmias por se encontrarem sobrevalorizadas e impróprias para consumo! Nessa altura eu tinha um estranho tique nervoso associado ao consumo de álcool. Os sintomas eram caracterizados pelo sotaque do norte e agir como um azeiteiro. A única coisa que me distinguia era a aversão à bijuteria dourada, ser imberbe e a dificuldade de aquisição de meias brancas.
Era do conhecimento geral que o nosso mais famoso “serial killer” era provavelmente um motorista de pesados do Norte, e eu, numa de quebrar o gelo característico do acto de pagamento da lembrança, tenho a brilhante idéia de lhe perguntar se já conhecia o estripador. Juntando o meu ar tresloucado e o meu sotaque tripeiro temporário, o que se passou a seguir, é uma questão de matemática...
Se num segundo me pareceu oportuno e simpático, logo me arrependi, pois a resmenga desatou numa berraria e nesse mesmo momento entraram dois marialvas que pareciam duas minhotas, tal era a quantidade de cordões dourados e pilosidades faciais. O resto adivinha-se, pois posso dizer que me tornei íntimo dos sacos de gelo e do Hirudoid. Uma coisa vos garanto, os sapatos de verniz, além de execráveis à vista, podem ser muito dolorosos no tacto, principalmente se este for feito com a região lombar e abdominal...
E começava assim a saga do mais característico e preciosos bem, o meu e muito próprio sentido de oportunidade!

A ambiguidade das minhas palavras e acções deriva da minha mais profunda vontade inabalável, mas que em algum ponto do processo sofre mutações. O porquê...? Esse é o mistério!Seria a chave, quiçá, da felicidade e o fim da tormenta que é ter de conviver com a asneira consciente mas incontrolável .
A consequência está cada vez mais insuportável, para mim e para os outros, fazendo mesmo perigar o bem estar de terceiros mais directos, e mesmo assim continuo a caminhar num percurso sem retorno à vista marcado por dissabores, arrependimentos constrangimentos, remorsos, más escolhas, palavras não ditas, palavras inconvenientes, infelicidade... E a lista é interminável!
Espero um dia aprender a dizer na altura certa as palavras doces e sentidas, não desbocar na espuma da revolta, saber o timing certo da palavra “Amo-te”, manter o silêncio e evitar a vergonha. No fundo é manter a harmonia entre o que se sente, o que se diz e o que se faz.

Talvez a ténue linha fronteiriça que divide os meus cíclicos e antagónicos humores seja a culpada, ou poderá ter sido mesmo reflexos condicionados impostos de forma inconsciente e irresponsável por gente supostamente responsável...
...não sei!
Talvez um dia numa outra oportunidade aprofunde esta questão. Até lá, contem sempre comigo e com a minha inconveniência, e perdoem-me se em algum momento vos incomodei.

1 comentário:

Anónimo disse...

Se calhar também não faria mal, algum por vezes, dizeres que amas mais vezes ou expressares o teu apreço a quem dele carece e que gostava de sentir que tem valor para ti!
Xhaina