25/05/2008

Conto de Natal - Parte 1

Noite de sábado para domingo.
Estava eu a dormir, depois ter mandado a trancada semanal a que o estatuto de esposo me obriga, quando de repente, me entra um gajo pela janela, a voar. Vestia calças azuis berrantes, uns ténis All-Star amarelos, uma t-shirt fluorescente com um Smile, óculos escuros com lentes azuis e um boné à guna. Na mão trazia uma pequena garrafa de água, mascava uma pastilha frenéticamente e abanava a cabeça com uma cadência 4/4 perto das 140 BPM's... Levantei-me num ápice e dirigi-me ao local secreto onde guardo a fusca. Por momentos ainda pensei que tivesse morrido e aquilo era a MORTE, mas achei que era de mau gosto mandarem um anjo tão manhoso e chunga! Afinal, eu nunca tive qualquer relação com as gentes de Chelas! Além disso o gajo não tinha asas nem nenhuma aura, apenas um cheiro a suor e a única coisa parecida com luz que eu via era uma daquelas barrinhas fluorescente que se partem, abanam e dão luz durante 12 horas, que estava pendurada ao pescoço do gajo! Ainda pensei que fosse uma nova forma de abordagem radical dos Jeovas, mas como o tipo estava sózinho e não trazia revistas caguei nisso.
O gajo, ao ver que estava ali em pânico, a ver se encontrava a canhota no esterco que é o meu armário, apressou-se em desfazer-me as dúvidas:
-Eu sou o fantasma das Raves Passadas!!!
Fiquei abismado, caguei na fusca porque já aprendi que os fantasmas estão-se a cagar para tiros, facadas e porrada! Aprendi à custa de muitos filmes manhosos... Fiquei também apreensivo porque aquela merda era-me familiar, já conhecia aquela lenga-lenga de algum sítio.
-Venho aqui com uma missão! Tens de tomar consciência para onde caminhas. Eu vou ajudar-te!
-Oh meu chunga de merda, quero lá saber se tu és alma penada! Põe-te mas é nas putas antes que a patroa acorde. É que se isso acontece, eu vou ter de dar mais uma berlaita e não estou para aí virado! Eu não aguento carinhos depois da foda duas vezes no mesmo dia... Além disso ando todo fodido da picha, porque a Esmeralda, colega lá do trabalho, gosta de fazer bicos depois de almoço mas ainda não aprendeu que os dentes não são para entrar na festa! Já me custa a obrigação de uma ao fim-de-semana! Se eu falho essa merda ainda tenho filhos pretos!
-Está descansado, só tu me podes ouvir e ver... Além disso enfeiticei a tua mulher com a magia dos Valliuns!
-Oh pá, já estás a subir na minha consideração. A continuar assim ainda sou capaz de te ver como um Humano e não apenas como um gajo da Zona J! Mas diz-me, o que raio é isso de seres o fantasma das Raves Passadas? Vens cobrar a minha alma por um dia ter metido pastilhas e fumado uma ganza, no beco atrás do Alcantara-Mar? Eu sei que foi uma atitude chunga mas eu andava desenquadrado e sozinho. Eu sei que a única coisa que se mistura com MDMA é cocaína e champagne. Mas naquele dia cedi! Tinha de ver como era o outro lado. Tinha que, pelo menos uma vez, ver como era a noite pelo prisma de um calhau! Não bastava fazer-me acompanhar deles! Tinha que ver o que eles viam! Além disso estava deprimido e sem guita! Eu sabia que naquele dia não iria comer nenhuma modelo que faria uma mamada por uns riscos de branca. Nesse dia sentia-me quase um suburbano adepto de futebol, tremoços e imperiais!
-Nada disso! Não venho cobrar nada, apenas te venho levar a dar uma volta ao passado. Para recordares as Raves dos anos 90.
-Foda-se, não me vais levar a nenhuma matiné de província onde achavam que "2 Unlimited" era techno pesado. Nem me vais levar de volta ao Sudoeste, aquele antro no Bairro Alto, embora eu tenha boas recordações desse tempo, ainda tenho um quase trauma de infância com Catarina Gorda, a fufa da porteira que desatinava comigo! Se me queres levar ao passado, larga-me numa daquelas orgias em que estive e pouco me lembro!
-Naaa... Vou levar-te a um sítio que te era familiar e passaste bons momentos! Além disso o Sudoeste era nos anos 80! Eu sou o fantasma das Raves Passadas, não o Fantasma da Triste Época do Acid House! Sou chunga, mas também tenho alguns limites quanto ao mau-gosto!
-Yuuupiiii! Ao beco do Alcântara-Mar, aquele de que falei há um bocado! E se tu tens poderes sobre-naturais também podes arranjar boa branca!
-Também... Agarra-te ao meu boné mágico da Nike!
E lá me agarrei à pala do chapéu à guna do gajo de Chelas... De repente saímos a voar janela fora, em direcção às nuvens! Só aquela coisa de ir a voar já me estava a fazer recordar uma vez que meti Ketamina a julgar que era Cristal! A única cena chata era que o gajo não me tinha dado tempo para me vestir, eu eu costumo dormir nú! Eu rezava que ninguém me visse naqueles propósitos ainda para mais agarrado à pala do chapéu de um gajo chungoso e borbulhento. Mas também, eu vivo num dormitório urbano... Quem haveria de estar acordado aquela hora? Até achei que o facto de ir a voar era secundário! O que achei mesmo surrealista era fazer-me acompanhar com uma espécie de sub-espécie, ainda para mais, todo nú!!! As únicas vezes em que isso aconteceu, estava ser assaltado, tirando a parte do nú, está claro...

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