27/05/2008

Conto de Natal - parte 2

Num instante, chegámos às nuvens, e assim que entrámos nelas, vi tudo branco, tipo anúncio da SKIP ou coisa do género. Mas foi por breves instantes! Comecei a ver flashes que quase me cegavam a visão e exclamei:
-Oh Fantasma, não me digas que não te lembraste que podiamos apanhar trovoada! Olha que sou apenas Humano... Ou então já estamos numa rave qualquer... Mas não ouço música, apenas o som da brisa primaveril a bater-me nos coiratos!
-Calma, tem calma! Já lá chegamos. Estamos a atravessar o Limbo da GNR, e aqui os gajos ainda não perceberam que não há velocidade limite e insistem nos Radares! Tem paciência! A pressa é inimiga da perfeição. Pergunta aos gajos que sofrem de ejaculação precoce!
Passámos aquela merda e começámos a cair do céu, e comecei a ficar assustado. Foda-se, ainda pensei que iam dar comigo estatelado no meu da rua, todo nú, ainda por cima com uma companhia dantesca! Fechei os olhos, reacção normal, pois sou apenas um Homem! Enquanto caía, comecei a ouvir um som baixinho a aumentar de volume, Era-me familiar! Em tempos até gostava daquela merda... Reconheci quando se tornou mais alto. Era uma música dos Kult of Krameria. Sempre com os olhos fechados, finalmente cheguei ao chão! A aterragem não foi das mais suaves, mas mesmo assim não fiquei esmerdado nem parti nada, apenas um bocado dorido, tipo como se estivesse poder de bêbado, caisse e só depois de ver o mundo de pernas para o ar, desmaiar! Mas neste caso não desmaiei. Levantei-me do chão, abri os olhos e vi onde estava! Tinha voltado ao Kremlin!
Estava mais descansado, pois já estava vestido. Usava umas roupas daquele tempo, roupas que um dia chegeui a usar. As calças cinzentas da Cheyenne, tipo fazenda, quase veludo! Uma camisola da Frederick Holmes, em malha, com as mangas em lycra, toda azul, apenas com umas riscas amarelas a fazer lembrar uma sinalização das curvas apertadas das estradas secundárias... Carinhosamente chamava-lhe "a camisola da BRISA". Calçava uns Ténis pretos, tipo camurça, da Sketchers. Enfim, tudo roupa que um dia usei! Eu sei, eu sei... um bocado abichanado, mas na altura era o que as pessoas usavam! Pelo menos eu usava, e o gajedo gostava de passar a mão naqueles tecidos agradáveis ao toque e, consequentemente acabariam por passar a mão no nabo sem grandes conversas! O ecstasy fazia milagres...
Lá no Kremlin estava tudo doido, tudo ao mesmo ritmo, tudo de garrafa de água na mão. A garrafinha, esse ex-libris dos 90. Era ouro, a água! Os filhos da puta cortavam-na nas casas de banho a partir das 2 da matina, e cobrando 700 paus por uma garrafa de 1/4 de litro! Estavam lá todos: os travecos, os blacks dealers que vendiam uma mistela em que o ingrediente principal era SKIP e faziam-na passar por pastilhas, as modelos dos catálogos do Continente que se achavam umas Top Models mas que se dissessemos que trabalhavamos em televisão e tinhamos coca, alinhavam numa festinha a três "no questions asked", as quarentonas divorciadas paponas de putos na pujança da idade e do speed, os velhões panascas refundidos na zona escura do pardieiro a micar os putos, os gunas de Chelas e a sua mania dos apitos de árbitro... Até vi o bombado do porteiro da altura com as calças de fato treino vermelhas da Adidas com os seus ténis Assis Tiger amarelos, e casaco de cabedal!
-Oh meu, leva-me daqui! És mesmo sumítico, mais um cochinho e estavamos no Alcântara!- disse eu ao espectro!
-Desculpa, é a força do hábito, sabes? Nós funcionamos como os pombos, onde quer sejamos largados, voltamos sempre à pócilga das nossas gaiolas! É por isso que os meus semelhantes mortais têm uma taxa de reincidência criminal muito grande!
-Logo vi... só faltava mesmo era parares pelo caminho para ires à Caravana dos Hot-Dogs aqui ao lado.
-Pois, tens razão! Caga nisso, vamos mas é embora ali ao Alcântara!
E lá fomos nós a voar pela 24. Aquilo para mim já não era novidade, pois uma vez, eu e o JR vínhamos de Cascais, na sua GSXR 7 e meio, onde tínhamos comprado Ácidos, e pensámos que estávamos na AutoBahn. Era isso e porque ele apostou comigo que a mota dele eram daquelas da Galática!
-Em segundos, estávamos na Travessa da Cozinha Económica. Insisti em pousarmos porque queria ter aquele flashback de ir pela rua a pé, passar pela porta da maralha, virar à esquerda e dirigir-me à porta dos cartões... Aquela merda, mesmo depois destes anos todos até o fazia de olhos fechados. Assim que dobrei a puta da esquina, quem eu vejo à porta? O gajo fininho que me conhecia de jingeira mas que não ia com a minha cara e fazia sempre a mesma pergunta:
-Tem cartão da casa?
Foda-se, o cabrão tinha algum fetiche retorcido em me ver sacar o cartão preto. Ou isso ou o gajo tinha um prazer mórbido em dizer "faxavor" contrariado! Todos os dias era a mesma merda! Estes gajos da noite têm mesmo pancas maradas! Eu também as tinha, mas considero que eram as vulgares de lineu, ou seja, gajas a régua e esquadro que não eram fufas mas que de quando em vez gostavam de uma palhaçada lésbica! Não, não eram tipas da maçonaria, eram gaiatas com as medidas de sonho!
-Oh fantasma, olha que o gajo vai me pedir cartão, e a ti, simplesmente se ri, a não ser que esta seja já aquela época decadente do Alcântara em que se transformou no salão de baile do Sacavenense!
-Não te esqueças que ninguém nos vê.... Já agora, trata-me por Ganimedes!
-Gani quê? Esse gajo não era um gajo do tempo da grécia antiga?
-Ya!!! Foda-se, e o chunga burro sou eu? ZEUS é o meu patrão, e se tu não te armasses aos cágados com essa merda da classe, saberias que o meu chefe, o ZEUS, chutava com os dois pés! E um dos amantes do gajo era precisamente o Ganimedes! E o gajo acha que sou parecido com ele...
-Mas vocês não têm sexo...
-Esqueceste-te do "pouco" antes do sexo. Porque achas tu que gosto de andar a voar? Lá de onde vejo também temos Citroenes Saxo verde alface com lâmpadas do talho por baixo, mas passar pelas lombas torna-se doloroso para mim! Já bem me basta a vergonha de me parecer com um jogador da bola da terceira divisão com mau gosto! Ups, perdoa-me a redundência...
-Poupa-me lá os promenores sórdidos, já tou a ficar enjoado! Buga lá para dentro que estou a ficar impaciente...

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