31/05/2008

Conto de Natal - parte 5

Estava deitado a tentar adormecer, coisa estúpida eu sei, porque depois de um acontecimento revelador como este só mesmo eu para tentar dormir! Dei voltas à cabeça, cheguei mesmo a falar comigo à viva voz sobre o sucedido, fiz perguntas a mim mesmo, mas sem resposta. Estava a ter o meu primeiro momento de reflexão verdadeiro. Mas um Homem não muda assim. Homem que é homem não deixa que lhe abalem as convicções. Ainda por cima por um Portergeist com um aspecto de erro genético! Por muito que fizesse uma retroespectiva da minha vida, a única conclusão a que chegava era invariávelmente a mesma: devia ter-me divertido mais!!! Mas num instante caí em mim e lembrei-me do que me disse o fantasma dos tempos idos, haveria de ser visitado por outro. Talvez aquilo fosse uma revelação tão colossal que tivesse que ser transmitida às mijinhas, talvez nem mesmo o verdadeiro Humano perfeito que eu era tivesse a capacidade de entender uma revelação daquela envergadura. Já esperava mesmo que me fosse revelado o tão demandado Sentido da Vida! Comecei mesmo a sentir-me o ESCOLHIDO, tipo aqueles filmes apocalípticos, de deuses e demónios em que o herói é sempre um iluminado, o tal, aquele que nasceu para aquilo! Até fazia algum sentido porque sempre me senti especial, sempre me senti superior, e naquele momento até achei que iriam reescrever toda a Bíblia, Corão, Tora e todos os canhanhos que viciam o povo. Eu iria constar neles todos!!!
Estava eu embrenhado nestes pensamentos, ao mesmo tempo que ia mirando a janela à espera do próximo que por ali entrasse, quando ouvi um barulho vindo da casa de banho. Olhei para o lado a ver se o camafeu da mulher estava deitado, pois tinha-me abstraído de tudo e talvez não tivesse reparado da saída dela, o que aliás era perfeitamente normal. Era habitual eu não me aperceber da presença dela mesmo que estivesse a falar comigo aos berros e à minha frente, exactamente como aqueles que sofrem um trauma e o cérebro apaga essa memória como forma de protecção. O meu, simplesmente a ignorava por completo. A única coisa que não a ignorava era o meu malho, pois dava sinais de si quando a fome de boa carne apertava. E verdade seja dita, daquela boca não saia nada de jeito mas fazia uns broches majestosos. Levantei-me da cama e dirigi-me para onde vinha o barulho, mas fui a medo, pois tinha receio que estivesse a ser assaltado. Assim que entrei na casa de banho dei de caras com um tipo alto, com um penteado à moicano e a crista com madeixas loiras, tinha uns óculos escuros grandes em degradê castanho, um brinco de brilhantes em cada orelha, enormes, que mais pareciam aquelas bolas que se penduram numa árvore de Natal, camisa preta em cetim, barbinha feita na perfeição, calças largas de linho e umas sandálias em pele. O gajo estava a remexer-me as gavetas onde guardo as porcarias de higiene, analisava cada frasquinho, cada pomada, cada bisnaga que encontrava e depois mandava-a novamente lá para dentro.
-Oh seu panasca do caralho, achas que vais encontrar aí dinheiro ou ouro? Achas que sou algum velho transmontano que guarda a narta nos sítios mais recônditos? Filho da puta, vais levar tanto nesse focinho vais ficar a parecer um homem à séria!!! - gritei-lhe eu.
-Calma, companheiro, eu sou o Fantasma das Raves Presentes! - disse o gajo num tom dengoso e arrastado.Por momentos ainda pensei que fosse alguma fufa em plena metamorfose, mas nem essas se parecem como aquele espécime de aspecto delicado e lavadinho.
-E foste aparecer aqui por alma de quem? Estás de caganeira ou querias arranjar-te antes de me apareceres? Se és o que dizes, já deves saber que não estou para aí virado.
-Estava ver quais os cremes que usas para a pele, como a hidratas, qual o perfume que usas... essas coisas! Sabes, eu uso uma filosofia muito própria, tipo: "Diz-me como cuidas da tua pele, dir-te-ei quem és!"
-Isso é um bocado rabeta, para não dizer completamente! Estou a ver a ironia da coisa. Primeiro um com aspecto de azeiteiro e traficante, agora um panasca... Mas tu afinal não sabes tudo sobre a minha pessoa???
-Panasaca não, metrossexual... Sei algumas coisas, mas também não sou informado de tudo. De onde venho, o funcionamento não é muito diferente de uma empresa terrena e portuguesa.
-Isso foi um nome bonito que arranjaram para a panasquice. Aliás, isso foi uma maneira de conversão de homens à séria para as práticas sodomitas. Primeiro tornam-se sensíveis e preocupados com a pele, depilam-se e o caralho-a-sete. Às tantas começam a mamar trolhos porque acham que a nhanha do nabo rejuvenece, e toda a gente sabe que gajo que mama pichas também as abafa com o cagueiro. No fundo é uma maneira de começar na panasquice sem o repúdio social que isso acarreta!
-Não sejas homofóbico, isso já está fora de moda. Mas isso não interessa nada, o que venho aqui fazer já deves saber.
-Tenho uma vaga ideia, já sei que vamos dar uma voltinha, só não sei onde, porque agora saio pouco. Gosto de estar perto de uma cama quando bebo e me drogo, e além disso as MILF's que costumo papar não saiem à noite.
-Acabram-se as modelos, não foi? Estás velho...
-Nem por sombras! Continuam a ser modelos, só que dos catálogos da Pré-Natal e da Chicco! Um gajo tem de acompanhar os tempos... E ainda por cima são gajas mal casadas que não fodem em termos desde a noite de núpcias, além de serem mais exigentes e requintadas do que essas pitas em início de carreira nas telenovelas juvenis. Essas fodem-me a droga toda até entrarem em Black-Out o que me obriga depois a dar uma queca numa espécie de cadáver que se vomita, e eu gosto de movimento. Depois tenho de alombar com elas até ao carro e largá-las aí num beco qualquer. É uma canseira e não vale o esforço!!!
-Bem, está na hora de irmos dar uma volta. Desta vez é melhor vestires qualquer coisinha decente, pois eu não gosto de emprestar roupa. Até te ajudo, se for preciso...
-Largueza, espectro apaneleirado... Eu visto-me sozinho, já só tenho roupas da Zara, mas ainda tenho bom gosto... Na medida do possível, é claro, a vida está cara, já não dá para os luxos... E depois já não vivo à conta dos meus paizinhos, e a COFIDIS já não me fia. Já só me resta dinheiro para o básico: droga, alcool, despesas da casa... e uma ou outra puta de quando em vez!
Lá vesti uma roupinha casual, que nos tempos que correm até é fino ir "casual". Raramente destoa e além disso aprendi que isso de boa roupa à noite é um erro, pois há sempre um filho da puta que nos entorna um copo na camisa ou uma gaja qualquer que não engole e deixa-me as calças com nódoas.
-Agarra-te ao meu brinco de brilhantes e vamos embora!
E lá partimos nós em direcção às nuvens, passando pelos gajos da GNR a quem eu prontamente acenei um vigoroso pirete!

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