28/05/2008

Conto de Natal - parte 3

Entrámos pela porta, passei pelo porteiro fininho e ainda lhe tentei dar um biqueiro nas canelas, visto eu ser agora um tipo de super-heroi transparente, mas não resultou. Tal como nos filmes, o meu pé trespassou as canetas do filho da puta e eu fiquei puto da vida. Ainda tentei imitar os filmes, fazendo muita força ao pensar, mas a única coisa que saiu foi uma bufa. Mesmo assim fiquei contente porque comecei a olhar para o gajo e ele torceu o nariz com um ar agoniado e exclamou:
-Quem é que foi o podre que se cagou?
Anuí lado a lado com o Ganimedes por aquela entrada majestosa, subimos a rampinha e virei à esquerda, tipo em piloto-automático?
-Onde vais? - perguntou o espectro
-Vou deixar o casaco!
-Foda-se, mas tu estás parvo? Cá para mim tu estás mas é com saudades do Óscar, o bicho androgena do bengaleiro...
-Hiiii, esse... Desculpa, ia novamente em piloto-automático
-Em vez de fazeres agulha em direcção ao "privado", babar-te com a Isabelita, a gaja
de cabelo preto para quem tu te babavas a micar as mamas, não! Vais matar saudades do panasca!
-Oh pá, mas ele até era um gajo fixolas...
-Era porque eras gajo!
-Tens razão. Vamos lá ver a grossa!
Assim que entrei pelo amplo espaço do privado, Isabelinha dos cabelos pretos à Cleopatra já estava a encher unhas, com o seu vestidinho preto muito decotado, bamboleava o corpinho de tez clara, enquanto o Pedro Lata, dançava uma espécie de dança da chuva misturada com o twist, em cima do balcão! Que saudades meu deus!
-Olha lá, tu deves coonhecer este gajo lá do Limbo, ou o gajo foi para o inferno?
-Naaaa. O gajo tá no paraíso, sabes? Mesmo com a vida devassa que levava fez muitos amigos cá em baixo! E isso valeu-lhe a eterna GOA!
-Foda-se, teve sorte, o gajo! Bem, e agora?
-Agora vamos circular...
-Porra, é mesmo à Tony. Sempre a andar às voltas pelo recinto a micar os mais bezerrados para os catar.
-Não, vamos ver uma pessoa...
-A sério? Vai ser difícil, isto parece ser uma noite de Sábado e a única coisa que vi foram os trastes do costume, tirando o Lata vestido como um palhaço da Tété e a Isabelinha com as suas insinuações lesbianas para a Sandra, a outra mais tronxuda... Com essa tive eu uma picardia dos infernos, mas depois fizemos as pazes. Mas a Isabelinha é que me enchia as fantasias...
-Vá, buga lá antes que fiques aqui a babar-te como um velho narsa e rebarbado como aqueles que tu davas com os cotovelos nos costatos! Lembras-te?
-Foda-se, os gabardinas!!! Então não lembro? Faziam-me comichão, esses tristes, sempre a roçar-se por detrás das moças que estavam na pista a curtir! À pala deles também saquei alguns nacos, numa de bom samaritano e tal, espantava os gajos, dizia às tipas para fingir que estavm comigo que o gajo bazava. Elas agradeciam por palavras e mais tarde, com alguma sorte, com o corpinho. Eu tinha a mania que era um gajo justo, altruísta e samaritano, mas no fundo era um filho da puta de um biltre igual aos outros. Tinha era mais classe e não era garganeiro. Conquistva pela simpatia, pelo desinteresse em futilidades, e claro está, conquistava também pela boa droga que oferecia quando tinha a certeza que o agradecimento se aproximava, ou seja, quando as minhas mãos já não sentiam o tecido...
-Já estamos a chegar a algum lado. Já começas a perceber a finalidade disto tudo.
-Eu não, estou só a ter um momento de nostalgia. Faria tudinho igual! Ehehehehe!
-Vamos ali ao pé do bar do Chuva...
-É só artistas, hoje..!
E lá fomos nós ao barzinho mais pequeno do Templo, o bar do Chuva, esse local de encontro da sub-espécie mais pesada, os gajos mais velhos e batidos nas negras artes notívagas. Aliás, recordo-me um dia em Dezembro em que estava mais um amigo e colega de trabalho, um tipo de Cascais 5 estrelas, quando o gajo exclama apontando para o bar do chuva:
-Está ali o meu tio com os amigos! Embora lá falar com ele!
-Estás doido? Não vês que estou com os olhos a parecerem faróis de nevoeiro, e estou a remorder-me todo? O gajo vai perceber que estou um bocado drogado, isto é se não perceber que estou todo e até cima!!!
-Não há crise, o meu tio costuma ter boa coca...
-Ganda tio... - exclamei eu todo contente!
O tio dele era um tipo normal de Cascais, quarentão, boa pinta, e low profile. Estava com os amigos e amigas da mesma faixa etária e também sem levantar grandes ondas. Mas estavam animados entre eles e parecia haver uma certa cumplicidade que eu apreciava.
-Tio, tás por aqui sacana? - disse o meu amigo - Sabes, estou aqui com este meu colega e ele estava aflito em vir aqui porque estava com medo que tu achasses que ele está completamente estricado!
-E está? - perguntou o tio
-Está, não, ESTAMOS!!!!
-Fazem bem rapazes, a vida é curta...
-Tio, tens alguma coisa para o teu sobrinho do coração?
-Calminha chavalos, a noite é longa...
Palavras sábias aquelas, era um tipo da velha guarda, aqueles que pintavam a manta e ninguém topava nada! Aquilo que o gajo queria dizer é que ainda acabariamos numa urgência com uma crise renal, o que era comum em adolescentes marretas que se punham a meter pastilhas como se fossem sugus e a beber água como um peixe. Esses fedelhos eram aqueles que tentavam dançar aos saltos, histéricos, a falar comiam as palavras, mordiam-se todos até fazer sangue. Normalmente vestiam-se à betinhos, todos iguais, tal era o hábito dos colégios católicos, com aqueles polos da Amarras pelo pescoço, as pulseiras feitas de o-rings de borracha, calças 501 esgaçadas, camisinha aos quadrados... Pareciam todos irmãos gémeos, clones do caralho. Queriam ser homens, os palhaços, mas a única vez que sentiam os braços de uma gaja era quando a amiga mais velha e que os tinha trazido numa saída, os levava de rastos até ao táxi. Tenho-lhes alguma raiva porque me deram cabo de uns caldinhos com as amigas deles, tipas quase por estrear egostavam de, pelo menos uma vez, foder com o povo...
Juntámo-nos ao grupo do tio do gajo e os gajos começaram a dar lições de moral, mas nada do tipo moralista a sério, era um mais uma espécie dogma nocturno, código de conduta, em que tinhamos que nos afastar dos holofotes, destacar pela nossa sobriedade, mas sempre nas nuvens, sempre senhores de nós próprios e nunca andar a cambalear. Às tantas o tio dele perguntou-nos se queriamos Poppers. Eu, ainda a medo questionei-o se aquilo não era coisa de rabetas, mas ele disse-me assim:
-Oh pá, isso são pré concepções de adolescente na puberdade! Droga é droga!
-Oh pá, então quer dizer que também aceitas a ganza nesse rol...
-Não exageremos... Pronto, há coisas que deves evitar! Também não devemos ser extremistas...
-OK. Eu nunca dei nos Poppers, mas que se foda...
-Poppers, no máximo duas ou três cheiradelas por noite, senão ficas todo cozido. Não faças como aqueles barrascos de Chelas que andam com um lenço empregnado e cheiram de 5 em 5 minutos! Até te nasce uma pala trás da cabeça e, posteriormente, o chapéu completo... E olha que isso é irreversível. Também ficas com o instinto de marcar o território com saliva, o que te faz cuspir de 10 em 10 minutos, mesmo a dormir... Por isto tudo é que vos aviso: cuidadinho...
E lá dei eu uma bombada no frasco... Assim que inspirei, senti tudo a desaparecer à minha frente, todas as cores se misturaram e criaram uma espécie de paleta de gouache toda rabiscada. Pelo meio ainda vi a cara de um gajo que me parecia ser de um matarroano que estava enganado no dia. É que aquilo à Quinta Feira era a noite do estudante. Era hábito os palonços universitários que não eram da Capital irem para ali emborrachar-se em cerveja até cair... As palonças eram mais recatadas e mais finas, até se atreviam num ou outro vodka, os que as tornava um bocado libertinas e nessas alturas cagavam no Felisberto que tinham deixado na terrinha e a quem tinham jurado fidelidade eterna depois do gajo a ter conseguido papar numa capoeira. Quando descobriam realmente o prazer da carne, tornavam-se numa feras indomáveis. Eram meninas da aldeia, mas fodiam como as da cidade!

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