06/05/2008

A morte previamente anunciada.

A Gabi!
Ela tinha cerca de 30 anos quando a conheci. Eu tinha 18. Rapariga de família normalíssima, abastada, coesa e nada disfuncional. Em novinha conheceu um gabirú que seguiu cegamente, exceptuando no acidente de mota que lhe ceifou a vida. Poupou-o à agonia! A Gabi teve como herança do seu namorado o vício da heroína e a SIDA! A Gabi era um farrapo humano em recuperação, mas apenas por frete, por amor à família, para os poupar da melhor forma a um fim mais do que certo, a um fim nauseabundo para quem vê!!! A Gabi decidiu ser uma rapariga da família, do vício, da recuperação com conta peso e medida... Afinal nada nem ninguém lhe poderia fazer mal. Ela sentia-se intocável! A primeira vez que vi alguém caldar, foi a Gabi. Foi um misto de curiosidade mórbida com terapia de choque... Por azar a seringa entupiu! Ao tira-la da veia, o sangue salpicou tudo em redor da Gabi. Por momentos senti um arrepio, pensado que tal não seria normal... - "Venenoso..." - foram as últimas palavras que balbuciou antes de olhos revirarem e entrar naquele torpor, que para ela era tudo!!! Era tudo o que lhe restava! Estava eu, o J.R. e a Gabi. Ela bebia uma cerveja em lata... Eu peguei na cerveja dela e quando me preparava para dar um gole, ela solta um estridente e assustador -"NÃO FAÇAS ISSO... Oh estúpido, olha que eu tenho SIDA!-" Fiquei gélido! A minha cabeça foi assaltada por mil e uma reacções, mas nenhuma saiu... apenas disse: "...não sabia..." Naquele momento percebi a Gabi!!!
Deixei de saber da Gabi pouco tempo depois, nunca mais soube dela. Possivelmente já dança ao som do piano. Não sei... Foi uma pessoa que passou por mim de raspão, mas que me marcou muito. Foi a primeira em que vi o cavalgar sacana em plena acção, foi o primeiro "venenoso" que conheci.

Hoje vi isto e lembrei-me dela!


Dorme Gabi, dorme...

1 comentário:

Anónimo disse...

Ficas-te chateado.

Eras o meu melhor amigo, estava longe de conseguir acreditar nas tuas palavras(foram no meu dia de anos), pensei que te querias afirmar como rebelde, mas como perdi eu tanta coisa na tua vida!

Os nosso amigos foram os mesmos, mas os nossos caminhos deixaram-se perder!

Ao ler, este post, as lagrimas caíram... A Gabi, sempre a vi como agarradita, mas escrito por ti, já não me apetece ser cruel!